"Não quero
a boa razão
das coisas.
Quero
o feitiço das

palavras."

Manoel de Barros

23/03/2011

Hoje é DIA da POESIA no LER ou não SER! Vamos viajar?

    Estava pensando na postagem desse 2º DIA da POESIA do LER ou não SER  e do TecerGirassóis quando recebi uma postagem do Blog da Companhia das Letras - Da Casa com o título: Os Poemas Que Inspiram Nossos Poetas - "...Acaba de chegar da gráfica Vesuvio, novo livro de Zulmira Tavares, que integra a coleção de poesia contemporânea brasileira da Companhia das Letras. Para marcar o lançamento, pedimos a todos os poetas da coleção que lessem um poema de um autor que os inspira." O resultado
dessa vídeo-leitura é:


Poetas contemporâneos recitam poemas que os inspiram


    Escolhi homenagear Eugenio Montale (Nascido em Gênova/Itália, em 1896. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1975 e morreu em 1981) e seu poema lido por Fernando de Franceschi:


OS LIMÕES
Escuta-me, os poetas laureados
circulam apenas entre plantas
de nomes pouco usados: buxeiros alienas ou acantos.
Eu, por mim, prefiro os caminhos que levam às valas
cheias de mato onde em lamaçais
já meio secos meninos apanham
alguma esquálida enguia:
as trilhas que bordejam os taludes descem por entre os tufos de caniços
e se metem nas hortas, entre os pés de limão.
Tanto melhor se a algazarra dos pássaros
se dissipa engolida pelo azul:
mais claro se escuta o sussurro
dos galhos amigos no ar que mal se move,
e as sensações deste cheiro
que não se larga da terra
e faz chover no peito uma doçura inquieta.
Aqui se cala por milagre
a guerra das desencontradas paixões,
aqui até a nós, os pobres, toca uma parcela de riqueza
e é o cheiro dos limões.
Vê, neste silêncio no qual as coisas
se entregam e parecem prestes
a trair o seu último segredo,
às vezes esperamos
descobrir um defeito da Natureza,
o ponto morto do mundo, o elo que não prende,
o fio a desenredar que enfim nos leve
ao centro de uma verdade.
O olhar perscruta em volta,
a mente indaga concerta desune
em meio ao perfume que se espalha
enquanto o dia enlanguesce.
São os silêncios em que se vê
em cada sombra humana que se afasta
alguma Divindade surpreendida.
Mas a ilusão se desfaz e o tempo nos devolve
à cidade ruidosa onde o azul mostra-se
apenas por retalhos, no alto, entre as cimalhas.
Castiga a chuva a terra, então; se espessa
o tédio do inverno sobre as casas,
a luz torna-se avara — a alma, amarga.
Quando um dia de um portão malfechado
entre as árvores de um pátio
nos surge o amarelo dos limões;
e no coração o gelo se dissolve,
e no peito estalam
suas canções
as trombetas de ouro da solaridade.
(tradução: Geraldo H. Cavalcanti)

 

    Ainda tenho na memória as leituras que fiz em bibliotecas, livrarias, ... quando Eugenio Montale foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura (1975).

    A seguir, mais um pouco desse poeta, prosador, jornalista e tradutor italiano, ligado aos chamados "poetas herméticos".

CÁ E LÁ
Há tempos estamos ensaiando a peça
mas a desgraça é que não somos sempre os mesmos.
Muitos já morreram, outros trocam de sexo,
mudam barba rosto língua ou idade.
Há anos preparamos (há séculos) os papéis,
as tiradas principais ou apenas
"a mesa está posta" e nada mais.
Há milênios esperamos que alguém
nos aclame no palco com palmas
ou até com assobios, não importa,
desde que nos reconforte um nous sommes là.
Infelizmente não falamos francês e assim
ficamos sempre no cá e jamais no lá.
(tradução: Geraldo H. Cavalcanti)

 
Nota: ..."Entende-se por hermetismo o jogo livre de palavras e metáforas, em âmbito poético, responsável pelo aparecimento de grandes obras literárias na tradição ocidental, especialmente a partir da era romântica... poesia de cunho hermético, onde as imagens ganharão vida por si próprias..."

Que cada DIA de POESIA seja mais um dia de alegria, leituras, aprendizado e sonhos!


Bjão carinhoso.

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