"Não quero
a boa razão
das coisas.
Quero
o feitiço das

palavras."

Manoel de Barros

03/09/2011

Bom dia - poesia!!!!

Ferida exposta ao tempo


É forçoso dizer que me faz falta
o poema que existe e nunca li,
como se algures
brotassem coisas que não vi
e que distantes,
carentes,
dependessem de mim.
Algo como se o intocado fosse a sinfonia
inacabada, mais: rasgada
como o quadro nunca esboçado, perdido
na abatida mão do artista.

O ausente
é uma planta

que na distância se arvora
e é tão presente
quanto o passado que aflora.

E a literatura, mais que avenida ou praça
por onde cavalga a glória, é um
monumento,

sim, de dúbia estória: granito e rima,
alegoria ao vento, lugar onde carentes
e arrogantes
cravamos nosso nome de turista:
— estive aqui, desamado,
riscando a pedra e o tempo
expondo meu sangue e nome
com o coração trespassado.

Affonso Romano de Sant’Anna

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