"Não quero
a boa razão
das coisas.
Quero
o feitiço das

palavras."

Manoel de Barros

28/03/2013

Um tempo de infância

Na casa grande da vovó

Quando vivi a infância
Na casa grande da vovó
Imaginei a existência
Ouvindo o canto do curió
 
Pintei os lábios e os dedos
Da cor rubra da amora
Do sabor sem segredos
Enchi o pote de carambola
 
Li na sombra do Jamelão
Ri das caretas do vizinho
Toda vez que do portão
Pedia um ramo de azevinho
 

Um pé de alface eu vi crescer
Um pé quebrado senti doer
Uma mão pegou mamão
- macho; o ‘fêmea’ serve não
 
Tinha a tal de azedinha
Que entortava o galho verdinho
Fruta bem pequenininha
Comia um montão no cantinho
 
Também tinha sapoti
Que nunca mais aqui eu vi
Era uma briga com o bem-te-vi
Que chegava rápido por ali
 
Manga rosa, manga espada
Reinava no meio do quintal
Pra pegar não tinha escada
Bastava o bambu do varal
                                                    
                                                   
 
Sob o coqueiro gigante
De ‘baba de boi’ – o coquinho
Sempre tinha muita gente
Esperando cair um bocadinho

 
Ah, muita cabeça quebrada
De quem não queria esperar
Lá vai pro alto a chinelada
Lá vem o coco duro de rachar!
 
Só na casa grande da vovó
Os dias eram de festa colorida
Não tinha tempo de ficar só
Nessa casa de tanta acolhida!
 
16/10/2012
Ana M M Pereira
 

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